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    D. José Augusto: se mais anos tivesse…

    3 anos ago · · Comentários fechados em D. José Augusto: se mais anos tivesse…

    D. José Augusto: se mais anos tivesse…

    Após catorze anos de serviço na diocese do Porto (1983-1997) como bispo auxiliar, D. José Augusto Pedreira, natural de Viana do Castelo, voltou para a diocese onde nasceu e na qual faleceu anteontem.

    É sabido que não foi um dos entusiastas da criação da Diocese, mas quis a irónica Providência divina que a servisse como Director do Colégio do Minho, Vigário Geral e, finalmente, bispo titular. O Padre Pedreira foi um homem da total confiança de D. Júlio Tavares Rebimbas. Um dos episódios que marcou esta relação de proximidade aconteceu num momento de aperto financeiro na recém-nascida diocese, quando o Padre Pedreira se aproximou do arcebispo-bispo de Viana e lhe ofereceu todas as suas poupanças. A dificuldade foi superada por outros meios, mas o gesto não foi em vão e o D. Júlio percebeu que aquele sacerdote franzino e discreto não guardava nada para si, era tudo e todo para a Igreja. Da sua dedicação e austeridade pessoal e material ninguém tem dúvidas e todos fomos testemunhas.

    Nos primeiros textos do D. José (Revista Memória do Instituto Católico, volume 5 de 1998 e Cadernos Vianenses da Câmara Municipal, volume 23 de 1998) e nas suas primeiras homilias e intervenções deixou claro que, na sua visão, a jovem diocese carecia de três realidades fundamentais. Dos seus três sonhos, concretizou dois e um ainda aguarda a sua hora.

    Dom José Augusto Pedreira

    © 2020. Fig. 1 – Dom José Augusto Pedreira, Bispo de Viana do Castelo
    ★ 10 DE ABRIL DE 1935 † 14 DE OUTUBRO DE 2020

    Estruturas Materiais

    A Casa Sacerdotal era a primeira necessidade desta diocese no projecto pastoral de D. José Augusto. A esse projecto juntou-se ainda a construção do Auditório Diocesano. Todos nos recordamos das Semanas de Liturgia celebradas na Capela do Seminário Diocesano e das clausuras dos cursilhos e outros eventos diocesanos nos auditórios do Turismo no Castelo de Santiago da Barra, no Teatro Sá de Miranda, nas paróquias de Santa Maria Maior, Perre e Meadela, pela generosidade do Cónego Constantino, Padre Alberto e Mons. Vilar. Esta necessidade era óbvia e apesar das reticências financeiras, foi possível a sua realização após um esforço já muito e significativo e recente que foi a construção do Seminário Diocesano.

    Mas ainda antes da inauguração duma e doutra estruturas, já D. José tinha promovido o restauro do edifício da antiga associação patriótica Nun’Álvares e do Círculo Católico para acolher e servir como actual sede do Instituto Católico de Viana do Castelo, na Rua da Bandeira, a cuja inauguração e bênção presidiu a 10-11-2002 e do qual foi Presidente até à sua resignação.

    A Casa Sacerdotal não foi tão pacífica. Muitos consideravam que se devia adaptar o Centro Pastoral Paulo VI criando uma quarta ala nas traseiras e restaurando esse imóvel. Outros achavam – e diziam de boca cheia – que ficariam sempre numa casa particular com empregada própria. Outros falavam e não diziam nada. O tempo deu razão a quem a tinha: D. José Augusto. De facto, nem todos os sacerdotes reúnem pecúnio capaz de lhes permitir ter casa e assistente pessoal; outros reuniram o suficiente mas a degradação física e mental não lhes permitiu gastá-lo desse jeito. Graças a Deus, os nossos sacerdotes têm hoje, se quiserem, uma casa onde viver, como frisava o D. José, “com dignidade até ao fim”.

    Dom José Augusto Pedreira

    © 2020. Fig. 2 -Dom José Augusto Pedreira, Bispo de Viana do Castelo
    ★ 10 DE ABRIL DE 1935 † 14 DE OUTUBRO DE 2020

    Sínodo Diocesano

    Foi o empreendimento pastoral mais significativo do seu ministério. No dia do seu anúncio, na Sé Catedral, assentou a data de encerramento para daí a três anos. Não foi possível, durou cinco. E foi, sem dúvida, um momento de aprofundamento da consciência diocesana com as suas realidades vivas e até com a presença de um Observador ecuménico convidado, o Metropolita de Portugal e Espanha do Patriarcado de Constantinopla, Hilarion Rudnik. Num intervalo, D. Hilarion confidenciou ao D. José e aos presentes que “um tal envolvimento do laicado na Igreja Ortodoxa e uma tal proximidade ao seu eparca (bispo) era ainda impensável”.

    O Sínodo Diocesano tornou-se possível graças ao sacrifício e perseverança dos Padre José Correia Vilar e Jorge Barbosa. As Propostas Sinodais e, em certa medida, a Exortação Pós-Sinodal assinada por D. José Augusto, são fruto desse trabalho. O texto que ainda hoje permanece desconhecido e ignorado pelo clero e laicado de Viana continha orientações que teriam feito a diferença na nossa realidade eclesial. Como sempre, os textos da Igreja ficam na gaveta; não são submetidos a processos de aplicação e avaliação constante. O próprio peso da estrutura que os gerou torna-os inférteis. Porém, muitas vezes, os processos – mais que os resultados textuais – contêm em si o grande mérito das iniciativas pastorais. E o Sínodo Diocesano foi, sem dúvida, um momento de entusiasmo e fortalecimento.

    Dom José Augusto Pedreira

    © 2020. Fig. 3 -Dom José Augusto Pedreira, Bispo de Viana do Castelo
    ★ 10 DE ABRIL DE 1935 † 14 DE OUTUBRO DE 2020

    Diaconado Permanente

    Este sonho ficou por concretizar. As razões foram muitas, mas a principal é que os tempos não estavam maduros nem as motivações purificadas. Para além de um “clero clericalista”, com uma ordenação de sete candidatos que se chegou a pensar agendada, o processo ainda não era claro. O pároco de um dos candidatos afirmava nunca ter sido contactado a propósito. Os nomes dos candidatos eram parcialmente secretos. E, acima de tudo, não era claro quê modelo de diaconado se iria realizar: o modelo latino-americano e africano em que os diáconos são quase-párocos, responsáveis directos e totais por comunidades? Ou o modelo europeu em que o diácono é pouco mais do que um leigo com estola, que acompanha o bispo e exerce funções sobretudo litúrgicas? Alguns falavam um tanto ingenuamente de que os diáconos deveriam assumir a direcção dos centros sociais porque essa era a razão da sua existência no Livro dos Actos (leitura um tanto fundamentalista do texto). Pessoalmente coloquei na altura uma questão delicada: de acordo com o Direito Canónico, os diáconos podem exigir à diocese um rendimento para o sustento da sua família. E isso tampouco tinha sido considerado.

    Dom José Augusto Pedreira

    © 2020. Fig. 4 -Dom José Augusto Pedreira, Bispo de Viana do Castelo
    ★ 10 DE ABRIL DE 1935 † 14 DE OUTUBRO DE 2020

    O Avanço da secularização

    Tendo sido ordenado diácono por D. José Augusto em 2004, convivi com ele e residi na Casa Episcopal até à ordenação presbiteral em 2006, ao completar a idade mínima obrigatória. Ao olhar para trás, dou graças a Deus porque aprendi imenso sobre a realidade da Igreja e dos tempos que vivemos.

    O D. José Augusto foi o primeiro bispo em Viana do Castelo a ter que enfrentar os avanços da secularização, tentando não descuidar a dimensão burocrática daquela que ele definiu nos Cadernos Vianenses como “esta grande máquina, de engrenagem complexa, ao serviço da população do Alto Minho”. O D. José esforçou-se por manter a vida pastoral activa, por organizar meticulosamente as finanças e reduzir as despesas, por manter um presbitério amplo e uma rede eficiente. Mas, quando olhamos para o horizonte contemporâneo, após o seu ministério e o D. Anacleto, damos conta que um número não pequeno de secretariados diocesanos, movimentos, grupos paroquiais e estruturas consultivas (conselho pastoral diocesano, por ex.) tornaram-se ineficientes ou desapareceram mesmo. Após o Jubileu do ano 2000, as grandes assembleias diocesanas por sectores começaram a definhar e, mesmo para além da situação pontual (?) da pandemia, são hoje residuais.

    Temos de levar muito a sério o tempo que estamos a viver e partir definitivamente para uma lógica de nova evangelização porque, aqui e além, começamos a ver as ruínas de uma modalidade pastoral que chegou ao fim. A partida de dois dos bispos diocesanos em menos de um mês é uma ocasião para pensarmos a Igreja que somos.

    …gostaria de dedicar outros tantos…!

    No infinito dom pessoal e eclesial que foi cada um dos quatro bispos diocesanos que até agora tivemos, encontramos parcelas distintas dos carismas do Espírito Santo. Na Escola de Enfermagem e na Escola de Educação do IPVC, D. José foi professor de psicologia e as suas alunas (poucos homens seguiam esses cursos na altura) recordam com saudade o amigo que fez questão, até ao fim, de que elas o chamassem apenas “Padre Pedreira”. D. José Augusto, em clave de encontro pessoal à mesa, era muito afável e dava gosto ouvi-lo definir as propriedades de cada alimento, os meios de cultivo, etc. Nas refeições, não se falava de trabalho pastoral. Mas gostava de partilhar experiências do passado, sobretudo na diocese do Porto e do convívio com o D. Júlio.

    Por ocasião do seu 75º aniversário e na iminência da sua resignação episcopal, teve um desabafo que nos diz muito sobre o seu amor a Cristo e à Igreja e isso conservo na memória e no coração: “Ao completar 75 anos, posso dizer que tive uma vida feliz, e se tivesse outros tantos para viver, gostaria na mesma de os dedicar à Igreja”.

    P. Pablo Lima

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