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    Ver Roma desde Cambridge – I

    3 anos ago · · Comentários fechados em Ver Roma desde Cambridge – I

    Ver Roma desde Cambridge – I

    Quando D. Anacleto Oliveira (rip) me recolocou a questão do Doutoramento e do local onde fazer o mesmo, sugeri que fosse um contexto académico e eclesial diverso de Roma. De facto, a breve e profunda experiência na Universidade Hebraica de Jerusalém ajudou-me a adquirir conhecimento não apenas das línguas, história, geografia e exegese bíblicas, mas também uma visão inter-religiosa e ecuménica absolutamente necessária para a compreensão da Escritura e da Catolicidade da Igreja e da nossa Fé. Estar fora ajudou-me a estar mais dentro.

    Cambridge é uma das capitais intelectuais do protestantismo europeu, particularmente das tradições anglicana e presbiteriana. Apenas em 1871, após o chamado “Universities Tests Act”, os católicos foram autorizados a frequentar e ensinar nas Universidades de Oxford, Cambridge and Durham. Aquele que depois veio a ser o Cardeal Newman, na sua primeira fase enquanto padre anglicano e professor em Oxford, foi contrário à admissão de católicos no ensino superior.

    Erasmo de Roterdão, São Tomás Moro e São João Fisher são apenas alguns dos mais exímios católicos que aqui ensinaram antes da fundação da Igreja Anglicana por Henrique VIII em 1536. Na verdade, Tomás Moro e João Fisher foram por ele martirizados.

    Porém, o protestantismo inglês está longe de ser aquilo que foi noutras eras e a secularização encontra-se aqui muito mais avançada do que noutros países europeus de tradição católica. Por todos estes motivos, e apesar da distância geográfica, este é um posto avançado para ver Roma e como a Igreja católica vive num contexto minoritário.

    A primeira impressão é que a pandemia atingiu mais duramente as igrejas protestantes (maioritariamente anglicanas e metodistas) do que as comunidades católicas. A maior parte delas não reabriram, nem sequer no verão. Algumas passaram completamente para o ambiente digital; algumas até do ambiente digital desistiram após algumas semanas. A realidade dessas paróquias é semelhante ao de muitas igrejas locais em Portugal, formadas por paroquianos idosos. Previsivelmente, muitas não voltarão a abrir, mesmo após o “fim” da pandemia. A paisagem de Cambridge não é muito diferente da de Viana do Castelo, Braga ou Porto. De cem em cem metros encontramos uma Igreja, várias medievais, outras tantas da época moderna. Todas as antigas foram católicas; as católicas são recentes (máximo de fins do século XIX).

    Biblioteca da Universidade de Cambridge

    Biblioteca da Universidade de Cambridge

    Ser uma igreja minoritária habituou a Igreja Católica a ter comunidades mais coesas, com um laicado bem formado, com párocos que trabalham em conjunto e mantêm um nível de formação permanente exigente, mais não seja para não ficar atrás dos pastores protestantes ou corresponder à formação universitária das novas gerações.

    A aposta na juventude e na pastoral universitária é aqui evidente na “Fisher’s House”, a capelania universitária dedicada ao santo que aqui foi estudante e reitor do Michaelhouse (College). Instalada no centro da cidade, a capela enche não só aos Domingos, mas também nas Missas feriais e o programa de reuniões formativas, eventos, etc é verdadeiramente admirável.

    Apenas a pandemia travou de forma relativa a intensidade da vida pastoral e espiritual da Igreja Católica na Inglaterra. Curiosamente, neste terceiro confinamento – tal como em Portugal – o culto não foi proibido. De facto, já no segundo confinamento os próprios bispos tinham pedido aos parlamentares católicos e doutras confissões que reconhecessem a importância das celebrações para a saúde mental dos cidadãos, crentes e não crentes, e o reduzido risco de contágio nos lugares de culto. Mais uma vez, enquanto a maioria das igrejas protestantes decidiram não aproveitar a isenção para o culto neste confinamento, a Igreja católica foi a única que decidiu manter as celebrações, com cuidados acrescidos.

    É ainda cedo para ter uma ideia do que ficará pelo caminho e do que permanecerá após a pandemia. Imagino que um certo entusiasmo pelo regresso, num primeiro momento, encherá as Igrejas e salões paroquiais. Mas, tal como uma queda ou um golpe só se sente verdadeiramente quando a carne deixa de estar “quente”, é fácil imaginar que não voltaremos ao “antes” de forma permanente. Este vírus deixa sequelas, físicas e espirituais; algumas exigem meses de fisioterapia, outras são irreversíveis.

    Pablo de Lima
    St Edmund’s College – UC.
    22 de Fevereiro de 2021, Festa da Cadeira de São Pedro.

    Tags: Categories: Escola Superior de Teologia

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